Imigrar – Um exercício minimalista
Muito se fala em zona de conforto, em como devemos ultrapassar essa zona em busca do crescimento pessoal.E sair da zona de conforto nada mais é que arriscar-se, fazer coisas que não te dão garantia de sucesso, agir de forma até então inesperada.E entre muitas decisões que podemos tomar na vida que sem dúvidas nos expulsa da zona de conforto imigrar merece lugar de destaque, aventurar-se por terras desconhecidas, enquadra-se em novos costumes, administrar a saudade e submeter-se a condição de forasteiro.No entanto, antes de todo esse arcabouço de novas situações temos a fase do desapego. Pois enquanto residentes em nosso país é natural que tenhamos construído um lar, uma rede de apoio, adquirido bens, itens pessoais e costumes.E quando tomamos a decisão de imigrar um dos primeiros desafios se apresentam ainda em nosso país, pois temos que nos desfazer de quase tudo que temos e que nós é conhecido e rotineiro. Desde o guarda-roupas que precisa ser drasticamente reduzido até os livros que acumulamos nas prateleiras e que aguardam o dia de serem lidos.Nesse momento percebemos o quão acumuladores somos, mesmo que tenhamos erguido a bandeira do minimalismo, vemos que na verdade temos muito mais do que precisamos.Minha jornada imigratória para Portugal não foi diferente.Iniciei o movimento do desapego um pouco mais de um mês antes da partida, acreditando que ainda sobraria tempo para fazer tudo com calma, ledo engano.

Os dias passavam na velocidade das horas e tudo que eu precisava me desfazer se multiplicava, levando-me a acreditar que era quase uma missão impossível.Mas com perseverança, ajuda e coragem consegui cumprir a missão do desapego, e ao final me senti desnuda e perdida, sensações que a princípio são desagradáveis porém, após esses primeiros sentimentos fui tomada de uma incrível sensação de leveza, liberdade e felicidade e pronta para recomeçar.E a principal lição desse capitulo de desapego foi que mais vale preencher uma vida com experiências, sensações e sentimentos do que me enterrar em itens e bens que não preenchem nada mais além da ilusão de ser o que se tem em substituição do que realmente se é.